8 de outubro de 2010

Aula 09/10 - Trabalho

Amanhã o eixo temático da aula será a questão do trabalho.
Abaixo, segue uma leitura sobre a Revolução Industrial e a classe operária inglesa.

Palestra: A Revolução Industrial e o surgimento da classe operária na Inglaterra
Turno: Manhã
Palestrante: Frederico Duarte

A Revolução Industrial e as formas de trabalho na indústria inglesa

Até o século XVIII, quase toda a economia mundial era agrícola. A partir do século XVI, iniciam-se uma série de modificações na produção artesanal, que resultaram, no século XIX, no nascimento da Indústria Moderna na Inglaterra. Estas mudanças foram causadas basicamente por alterações tecnológicas e na organização do trabalho, podendo ser divididas em diferentes fases.

Produção Artesanal: o trabalhador domina todo o processo produtivo, possuindo tanto a matéria prima, quanto os instrumentos de produção. Se um artesão fosse fabricar um alfinete, por exemplo, teria de endireitar um arame, cortá-lo, afiá-lo e ainda dar-lhe o polimento.

Produção Manufatureira: surgiram oficinas, que abrigavam certo número de operários equipados de ferramentas, que realizavam as tarefas de produção sob coordenação de um gerente. No caso da manufatura de um alfinete, cada trabalhador seria incumbido de uma tarefa, ou seja, um endireitaria o arame, outro cortaria, outro afiaria e outro ainda poliria. Neste estágio, o trabalhador perde o controle de toda a produção, submetido que está á divisão do trabalho para acelerar o processo produtivo.

Produção Industrial Mecanizada: neste estágio, os trabalhadores fazem pequenas operações em grandes máquinas, que substituem as ferramentas e o trabalho manual de muitos operários; estas são acondicionadas em grandes oficinas chamadas fábricas. Seguindo o exemplo anterior, para produzir um alfinete, o operário industrial deve apenas operar um maquinário, que vai se encarregar das operações necessárias para produzi-lo. Nesta fase, o trabalhador perde tudo: o controle da produção, as ferramentas e o produto final, só mantendo sua força de trabalho.

O pioneirismo da indústria inglesa e o surgimento da mão-de-obra fabril: Alguns fatores contribuíram para que a indústria se desenvolvesse primeiramente na Inglaterra, mais ou menos em torno da metade do século XVIII. Entre estes fatores podem-se destacar os seguintes: dinheiro para investir na produção, comércio intenso que incentivava a produzir cada vez mais, um grande número de pessoas que poderiam empregar-se com salários muito baixos, combustível barato para as máquinas e inovações tecnológicas que permitiam dinamizar a produção. Com isto a indústria surgiu e se expandiu de forma muito rápida na Inglaterra.
Dos fatores expostos acima, deve ser dado destaque a um especificamente: a abundância de mão de obra, conseguida pelo processo de cercamentos dos campos (enclousure). A burguesia investiu em terras e as propriedades foram sendo ampliadas para a criação de ovelhas. Os campos foram cercados e milhares de camponeses foram expulsos. Com as novas técnicas agrícolas, um número cada vez menor de pessoas era necessário para o trabalho. Isto obrigou mais gente a deixar o campo, liberando grande quantidade de mão-de-obra para a Indústria nascente.

A classe operária e seu desenvolvimento: O surgimento de um grupo de trabalhadores industriais não foi um processo simples, marcado apenas pela perda do controle dos meios de produção e pela entrada na fábrica. Muito pelo contrário, foi um processo traumático, marcado pela perda de independência, controle do seu ritmo de vida, mudança de valores e adaptação a uma estrutura produtiva cuja lógica se sustentava na máxima exploração da sua mão-de-obra. Estes operários, porém, não ficaram passivos a estas modificações em suas vidas, mas engajaram-se em diversas formas de resistência, transformando a sua própria condição de operário.

Algumas tradições de luta e inconformismo: No final do século XVIII, havia um grande descontentamento social na Inglaterra, com o empobrecimento devido à extensão da lógica capitalista para os diversos campos da sociedade. Ao longo deste processo, haviam se desenvolvido, entre os pobres, tradições religiosas inconformistas, como o metodismo; depois da Revolução Francesa, as idéias jacobinas passaram a influenciar os políticos radicais e a circulação da obra de Thomas Paine (inglês que havia atuado na Independência dos EUA) “Os Direitos do Homem”, ajudaram a fomentar o descontentamento dos trabalhadores.

A Sociedade Londrina de Correspondência e o Radicalismo da década de 1790: Em 1792, foi fundada em Londres a Sociedade Londrina de Correspondência (SLC), tendo como líder Thomas Hardy. Esta sociedade era formada basicamente por trabalhadores, tendo como função formar uma extensa rede de correspondência para fazer propaganda por uma reforma que ampliasse a participação dos operários na vida política. A SLC cresceu rapidamente, radicalizando seu discurso e alcançando tantos membros que tentaram organizar uma Convenção Britânica de reformadores em Edinburgo (como a Convenção da Revolução Francesa), mas foram perseguidos e presos pelo governo de Wilian Pitt. Mesmo tendo sido reprimidos, as agitações da década de 1790, marcariam profundamente a classe operária que estava nascendo.

O Ludismo e o movimento dos “Quebradores de Máquinas” (1811-1812): No final das Guerras Napoleônicas, entre 1811 e 1812, o descontentamento operário voltou a se manifestar, de forma bem mais intensa que no final do século XVIII. Os operários das grandes fábricas se revoltaram contra suas condições de vida e passaram a organizar protestos, quebrando as máquinas dos locais onde trabalhavam. Criaram, para se proteger, a figura do “General Ned Luddhan”, que supostamente comandaria estes operários (daí o nome ludista). A reação ao movimento de quebra de máquinas foi violenta, com perseguições e uma série de condenados à morte. O movimento ludista, depois da repressão, dissolveu-se, entre outros motivos porque com a grande indústria este tipo de protesto se tornou mais difícil, além disso, expandia-se uma nova forma de ação: o sindicalismo.

A Carta ao Povo de 1838 e a luta por um representante operário no Parlamento: Em 1838, alguns dirigentes operários e políticos radicais lançaram uma “Carta ao Povo”, que pedia a reforma eleitoral, com a universalização do voto e o direito aos trabalhadores terem representantes no Parlamento. Com isto, os cartistas (como eram conhecidos os apoiadores da Carta ao Povo), acreditavam poder votar leis que favorecessem a classe operária e impedissem a exploração desenfreada pela burguesia. Houve uma intensa mobilização, com grandes comícios e uma campanha pública que atingiu toda a Inglaterra. Em 1839, o Deputado Thomas Atwood apresentou uma petição com os pedidos da Carta ao Povo ao Parlamento, seguidos de 1 milhão e 200 mil assinaturas: a petição foi negada. Seguiu-se um levantamento de operários, liderados pelos cartistas, que foi duramente reprimido. Nos anos seguintes, o movimento acabou se desorganizando.

Mais importante que isto, porém, foi a tomada de consciência, por parte da classe operária, que ela podia agir em conjunto. Depois de anos de opressão, um grande número de trabalhadores, vindos de diferentes lugares, com experiências diversas, conseguiram desenvolver uma identidade comum em sua luta contra a burguesia: a partir deste processo, pode-se se afirmar que surge uma Classe Operária Inglesa.

*Autoria: Frederico Duarte
*Texto escrito como material didático para a palestra do dia 09/10/10.

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